segunda-feira, janeiro 22, 2007

Não à liberalização! Não compreendo...



Advertência: Não sei ao certo o que posso fazer a quem discordar de
mim neste tema. Eu sou diplomático, mas a diplomacia escaceia-me
quando o que toco é uma discórdia de opiniões em algo que considero
inumano numa das facções.
Temos um Sim. Temos um Não. Temos uma liberalização!
Aborto?




Não compreendo o Não!
Não compreendo!
Não compreendo como por detrás de uma capa de salvadores da
humanidade (perdida) alguém, por motivos éticos, pode querer
condicionar uma mulher (uma casal; uma família) a uma vida perdida
entre os esgotos fétidos de uma civilização modernamente avançada
para uma deteriorização clássica da condição feminina. Não
compreendo e nunca compreenderei.

Nega-se a liberdade de escolha, poupam-se uns trocos no IRS
(poupar-se-ão mesmo?) e eis que por mais umas décadas condicionamos
umas quantas almas inferiores a resumirem-se à sua inferioridade
nos ínfimos baixios da civilização, longe dos putrefactos olhares
da opinião pública.

Ódio não chega. Terá de se ter um sentimento tão indescritivelmente
podre para que alguém se possa tornar ambiguamente elitista e
sádico. Votar na penalização voluntária de uma vida, deitando-a
numa pena de infecções bacterianas por um filho que nunca quis, e
que filho nunca o foi dado ser uma aglomerado de células de um
tecido sangrento e indiferenciado, é uma atrocidade que não
considero digna sequer de uma vida.


Como é que toda a gentalha que votará pelo não no dia 11 pode não
compreender a diferença entre fazer um aborto e permitir que este
seja feito em condições condignas e legalmente supervisionadas?
Sentirão alguma culpa no facto de negar umas quantas células à sua
diferenciação? Quem vota no não afirma que nega uma vida antes
sequer do seu nascimento, e que por isso se sentem culpados de
homicídio. Pensarão alguma vez na tremenda culpa que terão, ao
votar não, ao condenarem a outro homicídio pessoas formadas, cuja
única razão pela qual abortam é a possibilidade de remediar o erro
de uma vida?

A imagem de um aborto clandestino não é divulgada, talvez se o
fosse, os governos achariam absurdo sequer um referendo sobre tal
assunto. Sangue difundido num vão de uma escada, negra, sobre os
olhares estranhos de uma mulher perdida no vazio de se entregar às
ásperas mãos de um rede que condena, uma rede personificada numa
parteira que força, com toda a força, a vagina a uma dilatação
anormal, dilatação agoniante, a penetração da culpa e da vergonha
tomando forma em espasmos de gritos encobertos por uma almofada
suja, num colchão sujo, encostada a uma parede que escorre
indiferença. Muito longe das dez semanas é forçado um organismo
vivo a rasgar a pele sensível dos pequenos lábios, rasga, e nem tem
culpa disso, rasga em sangue a virilha sensível de ter sido
depilada à pressa. De seguida, esse ser pequeno que não grita é
atirado numa saca plástica branca, que se mistura no lixiviado do
beco do subúrbio mais próximo. A mãe, esventrada da sua dignidade,
paga em dinheiro vivo (mais vivo que nunca) a sua tortura não
comparticipada. A parteira lava as mãos com mais uns trocos, e leva
o prazer estranho de ter arruinado com uma bactéria que desconhece
o ventre de mais uma mulher. Foi só mais uma jovem vítima do
elitismo de um voto "não" a mais. Resta o cheiro a sangue que
apodrece os cantos dessa esquina. Um resto de civilização.
Sim, isto porque quem pode pagar, o faz no conforto de uma clínica
espanhola.


Por isso não compreendo. Ofereço ódio a quem o consegue fazer, uma
vez que é desprovido de moralidade.

Poderia contra argumentar, mas para isso teria de ver o tema de uma
forma clara, mas os actos falam por si.

Querem números? São estimados cerca de 20 mil abortos clandestinos anuais.

O Aborto clandestino não é uma opção neste referendo.
Se para alguém o é, eu espero que vos seja cravejada a morte no
peito pelo sentido de humanidade que vos falta.




Sim, Obrigado!







Ultim-acto.