domingo, dezembro 09, 2007

Desabafo para a sociedade imobilizada


Sexta-feira, ando as voltas com a barba de volume inflacionado, pequeno cuidado com a minha imagem normalmente descuidada. Roubo perfume ao meu cunhado (vida de jovem não deixa dinheiro para tudo) e saio de casa rapidamente
No comboio que me leva até uma amiga tento descortinar até que ponto será “sagrada” a “família” que irei ver.
Sempre gostei de teatro, fascinam-me o contacto visual que é mantido entre actor e público, a entrega a um papel e reacção instantânea de quem assiste. Ao longo dos anos em que sobrevivi (ainda não encontrei a forma de realmente viver) neste mundo tive o privilégio de assistir a bons e maus desempenhos em cima de um palco. Textos simples, sem sentido, cómicos, melodramáticos, sem conteúdo, dramáticos, pseudo cómicos ou complexos foram-me servidos dentro de salas de teatro. Só uma coisa nunca mudou, a falta de publico!
Por este motivo não me surpreende que ao entrar na sala do Cine-teatro Passos Manuel este esteja despido de publico. Um senhor na 3ªfila, outro na quinta, eu, a Joana, a sua mãe e umas duas mãos cheias (a ser simpático) de pessoas atrás de mim. Um povo que se abstrai da cultura é um povo que se deixa corroer pelas vísceras manipuladoras da normalidade e do ócio, deixando-se prender no facilitismo. Porém não quero que isso me afecte e embrenho-me deliciado na peça. “Quero voar!” e quero que a mim a gravidade não me afecte, vaguear por entre ruas bibliotecas, pessoas e salas de espectáculo.
Mas para já estou aqui, a peça acabou ficou o sorriso, a cabeça apoia-se na almofada, o olhar no vazio. Mas a mente, essa centra-se na incompreensão. São 3horas da manha e escavo o meu discernimento de forma a entender para que precisamente agora estejam milhares de pessoas dentro das discotecas deste país, “dançando”, embebedando-se, entregando-se a algo que desconheço o interesse. E será que a totalidade de pessoas que foram hoje aos teatros desta nação encheriam uma só discoteca? Isto entristece-me no entanto hoje não me vou acomodar a esta questão não quero aceitar que “os portugueses dancem melhor do que pensam” nem que “haver mais discotecas que bibliotecas” seja uma consequência desse facto.
Sim é verdade a divulgação é pouca, não existe apoio dos média à nossa cultura, os grupos de teatro, novas bandas, artistas debatem-se com grandes dificuldades de promover o seu trabalho. Mas questiono cada pessoa que ler este texto, quantas vezes procuram vocês a cultura? Quantas vezes utilizam aquele meio que é a Internet para saber que peça, concerto ou exposição há nesse dia?
Após responderem a essa questão peço a todos, deixem de estar enterrados num sofá com o telecomando como vosso melhor amigo. Uma vez por mês por troca de gastarem dinheiro em bebidas numa discoteca como fazem todas as semanas, vão ver uma peça (de certo ficarão satisfeitos) ou então comecem a noite pela peça e depois vão na mesma à discoteca. Para os mais velhos deixem lá o clube do vosso coração em paz (o dinheiro dos bilhetes dá para assistir a muitas peças ou concertos). Procurem informação sobre exposições, ainda por cima a maior parte dela não se pagam, não caiam no facilitismo e procurem a cultura!

Não interpretem isto como um sermão, é apenas a mensagem de alguém que acredita que qualquer um pode ser culto (eu ainda não o sou) se assim o quiser. Não vivemos num país fácil para o ser, mas isso ainda vos vai trazer mais gozo quando assistirem a um bom espectáculo como este que assisti nesta sexta feira à noite.


Cumprimentos para todos aqueles que lutam pela aculturação deste povo! Parabéns aos membros do grupo de teatro Arama pelo desempenho.

E um beijo especial para todo HMP, para a Joana que lentamente entra para este grupo restrito no canto esquerdo do meu peito. E para o grupo de teatro amador Tic-Tac ao qual orgulhosamente pertenço.

Demónio

quarta-feira, novembro 07, 2007

Boa Tarde!

Esta é outra mensagem reaccionária à nova subida dos preços do petróleo!

( Quem apostará que ainda este mês haverá um "Boa Noite!" ?)



Ultim-acto

sábado, outubro 20, 2007

Bom Dia!









Esta é uma mensagem reaccionária à nova subida dos preços de petróleo.











Ultim-acto

sábado, julho 21, 2007

Dois anos depois!


Tenho a caneta pousada sobre a minha cama, como que se ela me pedisse para não escrever isto.

Faz hoje dois anos que tentei, num texto fazer mais algumas almas sonolentas despertar. Abanei com todas as minhas forças uma sociedade que comia alegremente os excrementos informativos que lhes eram dados, há dois anos ocorreram os atentados de Londres onde perderam a vida 52 pessoas.

Lembro-me bem desse dia, não fiquei surpreendido com atentados terroristas naquele país, tendo eles sido perpetuados seja por quem for, fiquei sim curioso por assistir ao noticiário desse dia, desdendilhar outros acontecimentos neste fabuloso mundo que é a Internet. Pois este regime ocidental já é muito previsível para mim, a sua hipocrisia há muito que não consegue que eu veja o que eles querem.

Bem após 1h30 de noticiário onde 1h00 foi ocupado com os referidos atentados, uma pequena notícia de 30 segundos revelou que no Iraque um “erro” num bombardeamento levou à morte de 250 pessoas, maioritariamente crianças, desta forma simples foi revelada esta noticia pouco relevante.

Passei dias a tentar escrever sobre o sucedido, tentando carregar ao texto de todo dramatismo destes factos, tentado revelar a todos quem são os maiores assassinos no meio de toda esta história, porém não consegui e esse texto ficou guardado na gaveta.

Volvidos então dois anos, pouquíssima coisa mudou na situação política e social do Iraque e do reino unido/mundo ocidental, num lado continua-se a ter medo de ataques, no outro continua-se a morrer de ataques. Mudei sim eu e penso que sei qual a melhor forma de vos apresentar a realidade, com números e sem qualquer teor dramático extra.

Assumindo que foi “culpa” dos países desde então invadidos, morreram em atentados terroristas 3250 pessoas, pobres almas que estavam no local errado à hora errada. Horas de reportagens, conjecturas, criticas xenófobas socialmente aceites tem desfilado perante nós.

As mortes directas na guerra ao “terrorismo”atingiram as 80000, em 1585 dias de ocupação do Iraque morreram 45000 directamente da guerra, os totais de mortos causados pelo conflito atingem os 90000 só no Iraque, maioria civis, a taxa de mortalidade infantil subiu 300%, já para não falarmos que, o local onde foram aprisionados os “suspeitos” desde então detidos, viola abertamente a convenção de Genebra.

Por tudo isto deixem-me ao menos dar o destaque merecido aos factos e deixar um pedido, acordem! Reflictam! Influenciem alguém a fazer o mesmo!







Demónio


quarta-feira, junho 27, 2007

Serenidade atlântica

E mais uma vez, mais um dia, a vida passa, calma, neste lento portugal que se move, vagaroso e sibilante, entre os desfechos do dia a dia, entre as conversas das vizinhas, as trocas de sílabas em relação ao passado s.João que decorreu, eufórico e sem problemas, na disputa entre as margens do Douro das duas cidades. Disputa amorosa, amigável, à qual o rio passa indiferente, como a população, no seu eterno destino de convergir em blocos que marcham, ledos e sublimes, em direcção ao Atlântico...
E a vida passa nessa serenidade atlântica, neste povo do mar, que passa...
As sardinhas fervilharam a sua pele em gordura, as fêveras tornaram-se devoradas, porque é para isso que existem fêveras - para serem devoradas - , porque é para isso que existem porcos - para serem carimbados e esgaçados e devorados -, ao som dos martelinhos alegres que no dia seguinte se arrumaram no canto da casa para nunca mais serem usados...
E mais uma vez, mais um dia, a vida passa, calma, neste lento portugal que se move vagaroso e sibilante.


Foda-se!


Mas que bela palavra não é? O português fechou o olho - o estrangeiro também - .


Sim, mais uma dia, mais um dia em que nada se fez, em que se ouviu a euforia gorgolejada das sardinhas e das fêveras e das cervejas e dos martelinhos quebradores de cabeças ocas, carecas, morenas, loiras! Mais um... É sempre mais um!


Estou farto! Farto de todos os "mais uns" em que o povo atlântico se move lento! Em que se move sibilante! Em que se move em não se mover no seu comodismo ético despreocupado e ocupado em trabalhos de sangue limpo, de sangue puro, de sangue que não olha um mendigo nem dá uma esmola! (Ouçam-me! Estou a falar de mendigos e esmolas! Estou a falar de vocês que não me lêem! Porque vocês (em discurso parentético que é como tanto gostam nas fofocas de domingo) são os porcos carimbados e esgaçados e esventrados e estilhaçados, estrilhaçados, percorridos, corroídos, esvaídos, re-puxados, re-quebrados e devorados ou socialmente execrável mas é um dia tão baixo e tão sujo pelo vosso imobilismo que me revolta tanto como olhar um católico devoto que violentou um menino, no seu leito da morte, receber uma extrema unção de um mais incultos que eu já vi! E tenho pena. Pena por sentir que vocês não têm pena de serem como são. Sabem, neste dia, dia como todos os que vivi e que viverei, até pode nem ter acontecido nada politicamente incríveldeus que há muito se suicidou, ou ver mais uma vez, em tempos directos da comunicação mediática, uma reportagem sobre danças de salão, quando bailam em catadupa e sem saltos altos milhares de homens para uma cama de sangue coalhado eterna.)
"A culpa é do estado!" ah... que frase tão bela!... O mais comum: um homem comum ter locus externo.


Ultimato! A toda esta gentalha rude de vendas nos olhos! O que custa viver um pouco para os outros, para os restos de humanidade perdida nos cantos dos esgotos da vossa civilização intelectualmente avançada?

Ouçam-me! Ouçam-nos!

Eu estava a falar para vocês...
Ah mecanismos orgânicos tão facilmente amestrados pela propaganda mediática... mas extremamente cultos! Imobilizados...


Foi mais um dia, mais umas 24 comuns horas...
Agora para nós, os que lemos o que escrevemos, foi mais um dia em que vos olhámos em desprezo! Mas nunca se esqueçam, um desprezo violento que não se nega a vos ajudar.
Ouçam-nos!

...Pois seja! Foi só mais um dia...







Ultim-acto

domingo, junho 24, 2007

Dia Mundial dos Refugiados


Dia 20 de Junho foi Dia Mundial dos Refugiados.Alguns acharão que é apenas mais uma daquelas datas que se arranja para poder falar de alguma coisa, não lhe dão a importância devida; mas, hoje em dia, é urgente olharmos para a situação de milhares de pessoas que vivem muito abaixo do limiar da pobreza e são refugiadas de guerra.Como é que se podem não importar e dormir descansados sabendo que estão a morrer pessoas constantemente por falta de comida, falta de água potável, de doenças típicas de séculos passados, etc..estas pessoas morrem de tudo o que se possa imaginar, e poucos, na sociedade actual, se preocupam com isso!Como é possível saberem e verem pessoas mutiladas física e psicologicamente por guerras e minas, crianças sub-nutridas à nascença, crianças com os corpos rodeados de moscas como se de cadáveres se tratassem, mulheres violadas e com SIDA, pessoas sem o mínimo de água potável para sobreviver, sem um pão para comer, sem o mínimo de roupa para taparem os corpos que mal resistem ao calor e ao frio...Anteontem vi um documentário sobre o genocídio do Ruanda. Chorei.E pergunto-me como é possível não chorar, de tristeza, raiva e dor, ao ver aqueles ser humanos destroçados, tratados como animais, deixados a morrer...mas se fossem os únicos...Sudão é apenas mais um exemplo num continente constantemente dilacerado por guerras civis (maioritariamente) e genocídiosRazões para se cometerem tais atrocidades? Não encontro nem uma que seja válida, que justifique um comportamento bárbaro deste género!!As Nações Unidas dizem-se preocupadas com todas estas situações, auto denominam-se de "salvadores do mundo", mas quando chega a hora de agir e evitar um genocídio alegam que não têm jurisdição para intervir nos conflitos armados!Mas quando os mortos já estão mortos, os feridos já estão traumatizados, as pessoas ficaram sem nada daquilo que conheciam...só aí é que eles intervêm, dando ajuda humanitária!Pode ser uma grande ajuda, não o posso negar, mas quando podiam ter evitado algumas situações sentarem-se e esperaram que o pior viesse para fazer algo!Como é que são capazes de uma coisa dessas? O vosso papel não é apenas esse, o de enviar ajuda humanitária quando o mal está feito; o vosso papel também é evitar que o mal aconteça...e nesse papel, não se têm saído muito bem!


E vocês, sociedade encarneirada e mesquinha, que dizem preocuparem-se com o estado do mundo, no fundo não se preocupam com nada, têm mentes fechadas que apenas vêm o vosso pequenino mundo, e os pequeninos problemas nele existentes!Abram os olhos, mas sobretudo abram as mentes...não se deixem ficar como bons carneiros que são...sejam ovelhas negras no meio do rebanho e revoltem-se contra estas situações...façam, realmente, algo, não se limitem a falar!Podem pensar que é isso que estou a fazer, apenas falar..mas não..o meu projecto de vida passa por formar-me em política internacional e resolução de conflitos..para quando chegar a minha altura, não cometer os erros cometidos no passado!


Enquanto isso, vou contando com as lágrimas de outros "revolucionários", que choram comigo as mesmas lágrimas de sangue por situações, para nós, absurdas para o mundo em que vivemos...e vamos sonhando em um dia mudar tudo!


Mas é aí que temos que começar..no sonho!



(foto retirada de "Blogue de Esquerda")


isabel

segunda-feira, junho 18, 2007

Sociedade Imobilizada-Capitulo II - Adultos



Teclar doentio ecoa nos meus ouvidos, levanto-me da cadeira lentamente e esfregando os olhos. Noites mal dormidas, devido a uns tais de exames nacionais, e o incenso que paira no ar não me permitem descortinar de onde vem este ruído doentio…saio então de casa, o meu corpo sonambulamente desloca-se enquanto penso que estarei a fazer? O som parece ter desaparecido mas sempre que volto para trás ele retorna…”mas que raio se passa?

Começo a espreitar as janelas dos meus vizinhos, num acto involuntário mas necessário e então percebo de onde vem o teclar.

Ordens de humanos transformados em gado ovino, por uma sociedade manipuladora, mudam sem aparente sentido o canal das suas televisões. Vejo que um sorriso triste invadiu os seus rostos e penso que a humanidade, em especial esta nossa sociedade portuguesa à qual tenho mais acesso tornou-se bolimica, comendo toda porcaria de informação…mas não a chegando a tratar.

É deprimente ver que aqueles que tanto criticam a juventude por estar estagnada, imobilizada estejam sentados num sofá enquanto os seus sonhos de juventude vão sendo desfeitos.

Já provei concordar com essas pessoas no que diz respeito à sua opinião sobre os jovens, porém esta sociedade encontra-se imobilizada mais por causa dos adultos que dos jovens.

Foram os adultos de hoje que criaram este sentimento de que tudo tem que ser seguro, de que mais vale uma barriga cheia sem espírito do que um espírito esfomeado, os jovens de hoje permanecem deitados na cama assistindo aos morangos com açúcar enquanto na rua alguns “marcianos” protestam contra a incoerência dos processos de elaboração dos exames porque foi esta a educação que receberam. Os pais de hoje não ensinam os seus filhos a lutarem pelos sonhos antes preferem educa-los para um ciclo que acreditam ser racional, os seus filhos antes de nascerem já estão programados para estudarem, tirarem um curso com muita saída (se isso existisse), casarem e terem filhinhos de modo que gerações de carneiros imobilizados continuem a ser elaborados nesta enorme fábrica

E assim o homem vai voltando a ser um animal selvagem que apenas luta pela sobrevivência, e procria…a tal “besta sadia” que Pessoa falava….

Gostava de conseguir perceber porque esta atitude dos adultos, porque criam os vossos filhos assim? Porque não lutam pelos vossos sonhos? Ao fim de contas vocês viveram uma revolução, tiveram tudo para sonharem e concretizarem os sonhos, mas preferiram viver no medo substituindo a ditadura política, por uma ditadura mental…não percebo…não percebo esta Sociedade imobilizada!


Cumprimentos a todos, pedimos perdão pela demora deste segundo capitulo, mas somos jovens que tem que ultrapassar os exames, ser activistas mostrando as nossas convicções de varias formas e nalguns casos ainda cuidar das tarefas domesticas…por vezes alguma coisa cede. Abraço a todos e por favor ajam, critiquem, lutem!!!


Foto cedida por Shizzy







Demónio