quarta-feira, junho 27, 2007

Serenidade atlântica

E mais uma vez, mais um dia, a vida passa, calma, neste lento portugal que se move, vagaroso e sibilante, entre os desfechos do dia a dia, entre as conversas das vizinhas, as trocas de sílabas em relação ao passado s.João que decorreu, eufórico e sem problemas, na disputa entre as margens do Douro das duas cidades. Disputa amorosa, amigável, à qual o rio passa indiferente, como a população, no seu eterno destino de convergir em blocos que marcham, ledos e sublimes, em direcção ao Atlântico...
E a vida passa nessa serenidade atlântica, neste povo do mar, que passa...
As sardinhas fervilharam a sua pele em gordura, as fêveras tornaram-se devoradas, porque é para isso que existem fêveras - para serem devoradas - , porque é para isso que existem porcos - para serem carimbados e esgaçados e devorados -, ao som dos martelinhos alegres que no dia seguinte se arrumaram no canto da casa para nunca mais serem usados...
E mais uma vez, mais um dia, a vida passa, calma, neste lento portugal que se move vagaroso e sibilante.


Foda-se!


Mas que bela palavra não é? O português fechou o olho - o estrangeiro também - .


Sim, mais uma dia, mais um dia em que nada se fez, em que se ouviu a euforia gorgolejada das sardinhas e das fêveras e das cervejas e dos martelinhos quebradores de cabeças ocas, carecas, morenas, loiras! Mais um... É sempre mais um!


Estou farto! Farto de todos os "mais uns" em que o povo atlântico se move lento! Em que se move sibilante! Em que se move em não se mover no seu comodismo ético despreocupado e ocupado em trabalhos de sangue limpo, de sangue puro, de sangue que não olha um mendigo nem dá uma esmola! (Ouçam-me! Estou a falar de mendigos e esmolas! Estou a falar de vocês que não me lêem! Porque vocês (em discurso parentético que é como tanto gostam nas fofocas de domingo) são os porcos carimbados e esgaçados e esventrados e estilhaçados, estrilhaçados, percorridos, corroídos, esvaídos, re-puxados, re-quebrados e devorados ou socialmente execrável mas é um dia tão baixo e tão sujo pelo vosso imobilismo que me revolta tanto como olhar um católico devoto que violentou um menino, no seu leito da morte, receber uma extrema unção de um mais incultos que eu já vi! E tenho pena. Pena por sentir que vocês não têm pena de serem como são. Sabem, neste dia, dia como todos os que vivi e que viverei, até pode nem ter acontecido nada politicamente incríveldeus que há muito se suicidou, ou ver mais uma vez, em tempos directos da comunicação mediática, uma reportagem sobre danças de salão, quando bailam em catadupa e sem saltos altos milhares de homens para uma cama de sangue coalhado eterna.)
"A culpa é do estado!" ah... que frase tão bela!... O mais comum: um homem comum ter locus externo.


Ultimato! A toda esta gentalha rude de vendas nos olhos! O que custa viver um pouco para os outros, para os restos de humanidade perdida nos cantos dos esgotos da vossa civilização intelectualmente avançada?

Ouçam-me! Ouçam-nos!

Eu estava a falar para vocês...
Ah mecanismos orgânicos tão facilmente amestrados pela propaganda mediática... mas extremamente cultos! Imobilizados...


Foi mais um dia, mais umas 24 comuns horas...
Agora para nós, os que lemos o que escrevemos, foi mais um dia em que vos olhámos em desprezo! Mas nunca se esqueçam, um desprezo violento que não se nega a vos ajudar.
Ouçam-nos!

...Pois seja! Foi só mais um dia...







Ultim-acto

2 comentários:

Anónimo disse...

EU OUÇO!!!!
Ainda bem que existem, ainda bem que há destes ultimatos!!! É revoltante a humanidade e o termos de viver com ela, espectadora de si mesma. Já dizia Simone Beauvoir: "O meu inferno são os outros".
Beijão!!
Oh Pinguim sanguíneo, não consigo postar no teu fotolog!!!

Sathya disse...

Sempre bom ouvir a voz da verdade. Quanto mais falada melhor. Ha que levantar a revoluçao pela verdade pelo futuro para que a humanidade nao se perca na sua propria escuridao

darksaint